Sempre foi deprimente para mim o ter de atravessar estes dias que decorrem. Talvez porque desde criança tenha vivido Natais melancólicos, cinzentos, e frios. Mesmo aqueles caprichos que todas as criancinhas esperam ter dos seus pais e que no Natal vêm satisfeitos nunca o tornaram para mim a "Noite Feliz".
Talvez seja por causa daquele Natal de 85, tinha eu quatro anos, e tive de cantar "O Sininho".
Timidamente, perante uma plateia de pais e de avós, tios, padrinhos, de tantos outros que nunca vira e que não conhecia de lado nenhum, todos de olhos postos no palco, ansiosos pela actuação dos putos.
"O Sininho", essa cantiga de amigo, que por ser tão ridícula chega quase ao patamar do minimalismo, não é, nem nunca será digna de ser cantada em público.
Vestido de sino feito de cartolina e papel celofane, estava acompanhado por um coro de outros sininhos da minha sala, cantei mesmo tendo a noção de que estava exposto, cantei, cantei até corar, e o nervosismo foi tanto que acabei por me perder naquela letra caricata. Fiz aquilo que não queria fazer: expor-me ainda mais ao ridículo. Nessa noite chorei como qualquer criança chora porque foi magoada e "roguei a praga" ao Natal. Vim a saber mais tarde que isso já tinha sido feito, e que o Natal não passava de mais um dos muitos produtos da Coca-Cola ou de outras que lhe tiram o proveito. Uma solução, um pacote standard: Happy Family, em que qualquer família cheia de conflitos, intrigas, desordem e inimizade se junta para festejar uma "Noite Feliz" em que todos partilham presentes entre si, fingindo gostar do par de meias que o tio ou a tia, que já não viam há um ano, lhes oferece. Continuo sem saber o porquê de tanta delicadeza apenas uma noite por ano.
Hoje em dia encaro o natal como ele é, e apenas como ele é: o Natal dos enfermos, dos mendigos e aqui ou acolá Natal, e dia de férias, para militares fora do seu país.
E é ao natal que dedico este post, e os versos que se seguem:
o que quer o Baltazar. Zeca uma boneca Para o Zito um apito Uma bola para saltar É Jesus! cheio de lindas prendinhas Pai Natal Irá trazer Brinquedos para nós Para a paz, ó Jesus! de barbas branquinhas Traz o saco Dorme em paz, ó na lapa Jesus, nosso na chaminé Olha o Pai Natal, bem! Dorme em de amor, Pobrezinho, nasceu em pé Vamos pôr o sapatinho Lá Belém; Eis Noite feliz! Noite feliz! O Senhor, É Natal, é Natal Tudo bate o Deus
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